1.11.09

PESQUISA

Mestra Margarida (foto Eduardo ravi)
Reisado Discípulos de Mestre Pedro (foto Nívea Uchoa)

" Boa Noite Todos! Eu tenho memória. Só vim agora porque foram me chamar" (Canção de Guerreiro cantada por Mestra Margarida - CE)


Conheci Mestra Margarida em 2005, no Cariri. Desde o primeiro momento, e até hoje,  me impressiona seu canto, sua força, o tesouro de canções antigas que carrega com ela, junto com isso, o estado de abandono em que se encontra, como tantos guardadores de saberes da cultura brasileira, como tantos brasileiros... No espetáculo canto algumas canções reveladas (ou compostas?) por ela e que são cantadas pelos grupos de reisado da região. Margarida inspira uma das figuras de Rosário.


Maria Margarida da Conceição trabalha com reisado há 61 anos, na ocupação de Mestre Guerreira. Margarida Guerreira, como é mais conhecida, descobriu aos oito anos que já tinha admiração pelas brincadeiras populares que vivenciara em sua infância em Alagoas. Com a chegada de sua família a Juazeiro do Norte, movida pela fé no Padre Cícero, Margarida se depara com várias manifestações populares. A partir desse momento se encanta. Pouco depois, funda o grupo “As Guerreiras de Joana D´arc”, reisado formado só por mulheres, três treme-terra, blocos de moças com espadas, que até hoje resiste pela sua força de cantar e dançar a arte do povo nordestino. Recebeu o título de Mestra da Cultura Tradicional Popular em 2004, pela Secretária de Cultura do Governo do Estado do Ceará. Em 2006 tornou-se patrona da praça de convivência do SESC Unidade Juazeiro, que passou a ser chamada Terreiro de Mestra Margarida.



PESQUISAS (Ou Andanças de uma Vida)

Almerinda Alves da Rocha (Minha AVó) – Negra de 93 anos, cujos avós foram escravos. Cresci admirando perplexa a força dessa matriarca que percorreu sozinha os recônditos do sertão lecionando e alfabetizando em minúsculos povoados, e ouvindo suas canções, rezas, e suas historias de ciganos, cangaceiros e viagens em carros de boi.

-Ilê Axé Opô Afonjá e Casa Branca (Terreiros, Salvador-BA, 1997) – convivência de um ano no terreiro tombado pelo patrimônio da humanidade, Ilê Axé Opô Afonjá, observando danças e toques, folhas, caracterizações e rituais, e também as lindas senhoras e seus saberes importantes. Marcou-me duas cerimônias especiais: As águas de Oxalá, e uma oferenda a Iemanjá feita em um barco na baía de todos os santos.

-Capoeira Angola - Integrante do Grupo Zimba, desde 2002, e pesquisando em outros grupos tradicionais de Salvador, me aprofundei nas questões relativas a oralidade e influência de matrizes africanas na gestualidade do corpo brasileiro.

-Comunidades remanescentes de Quilombos da Barra e Bananal – Marcantes pela beleza e pela pobreza, ressalta-se o sentimento forte de família, de pertencimento. Em poucos lugares se vê negros tão negros, lembram nossos ancestrais africanos. (Rio de Contas, BA, 2003).

-Missas de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Salvador-BA, 2002-2006) – Além da bela igreja construída no século XVIII pela irmandade de nossa senhora do rosário dos homens pretos, a missa é experiência singular. Uma prática católica cheia de canções e tambores, e falas em línguas africanas, o auge do sincretismo. A chuva de pétalas de flor é dos acontecimentos que influencia diretamente a criação de uma das cenas do espetáculo.

Samba de Roda – pesquisa através de Vivência pessoal decorrente de parte da família ser de santo Amaro da Purificação e através da Programação paralela do VI Mercado Cultural (Salvador-BA), que reuniu Tradicionais Sambas de roda do Recôncavo, em extensa diversidade, sendo muitos deles desconhecidos.

Congos e Congadas de Minas Gerais –  (desde 2000) Associação Cachuêra! (SP) pesquisa de vídeos e livros e pesquisa pessoal através de livros e cds, com enfoque especial na comunidade dos Arturos, remanescente de quilombos e um dos congos mais representativos.

-Reisado dos Irmãos – Discípulos de Mestre Pedro (Reisado de Congo, Cariri, Juazeiro do Norte) – Pesquisa iniciada em 2005. Manifestação somente existente no vale do Cariri. Repleta de belas canções, danças de matriz claramente africana, luta de espadas, dramatizações e alta desenvoltura dos palhaços Mateus. Foi um grande e emocionante encontro, aprendi o ofício e hoje eu brinco também.

-Quilombo ou Quilombada – Encontro tradicional de reisados de congo nos dias 1 e seis de janeiro (Cariri, Juazeiro do Norte, CE, 2006) – Dramatização influenciada pelos quilombos de Alagoas (manifestação que remonta a guerra do quilombo dos Palmares, entre Índios, Negros e Portugueses).

-Procissões Religiosas  (Cariri, Juazeiro do Norte-CE, 2006)) –As procissões no juazeiro do norte, terra de padre Cícero são uma experiência incomum, e um momento de ver mesmo a cara do povo nordestino, e testemunhar perplexamente uma grande fé. Vê-se cruamente a dor se misturar com alegria, o grotesco com o sublime.

- Penitentes de Barbalha – Ritual de reza cantada em Dia de Finados (Cariri, Barbalha, CE, 2006) – Entrar em um pequeno cemitério todo de terra vermelha (onde as covas se diferenciavam pelos montinhos mais altos), repleto de flores do campo, e iluminado de um número de velas sem fim, já parecia estar adentrando um filme. Quando os senhores penitentes começaram a cantar, acompanhados das Incelenças (grupo de mulheres), aí tudo ficou de um surrealismo deslumbrante. Cantaram horas sem parar, levando todos a uma espécie de transe, com suas vozes belíssimas, de uma diversidade de tons que formavam uma harmonia perfeita. Bela festa para louvar os mortos.

-Rodas de Sambas Tradicionais (Itapoã, Salvador, BA, 2006-2007)
- figuras ilustres representantes do samba, compositores tradicionais (como ‘seu Reginaldo’, um dos únicos compositores vivos) e músicos convivem e revivem o verdadeiro samba. Destaque para Dona Cabocla, senhora cujo canto e figura inspira diretamente o espetáculo.

-Palco da Tradição (Congadas, Reisados de Caretas, Reisados de Congo, Reisados de Couro, Maneiro-pau, Guerreiros, Lapinhas, Bandas Cabaçais) Documentação videografica de todas as manifestações (Mostra SESC Cariri de Cultura, Crato, CE, 2006) – uma semana intensa, oportunidade única de assistir e pesquisar diversos reisados, de diversos tipos (de congo, de caretas, de couro), bandas cabaçais de várias localidades do cariri, e outras manifestações da região. Foi uma oportunidade também de conhecer e conversar com os mestres e brincantes.

-Torés com Índios Cariris (Palmeiras-BA, 2007) e Côco da Praia do Iguape (Iguape, CE, 2007)
Dançar junto com eles, além do grande aprendizado, é uma vivência forte que faz absorver a manifestação e a cultura sob vários aspectos: saberes, sentimentos, sentidos ocultos, ritualidades, arquétipos.

-Vivência com o grupo de pesquisa de manifestações populares nordestinas “Fulô da Aurora” (Ceará, 2005-2007) – Desde que passei a transitar entre a Bahia e o Ceará, convivo com os integrantes desse grupo, também artistas-pesquisadores e brincantes apaixonados como eu. É um aprendizado constante com pessoas tão comprometidas com a cultura popular: aprendizado de respeito, dos sentidos da brincadeira, dos toques, ritmos, danças e saberes, principalmente do Reisado de Congo e da Banda Cabaçal.

-MIS (Museu de Imagem e Som/CE) , Associação Cachuêra! (SP), VI Mercado Cultural, Salvador-BA, 2005, IRDEB (Instituto de Radiodifusão do Estado da Bahia) (-pesquisa de vídeos sobre as manifestações populares do estado da Bahia: Bumba meu Boi, Burrinhas, Caretas, Zambiapunga, Cantos de Trabalho;)

PERCPAN - Panoramas Percussivos Mundiais, Salvador-BA, 1996-2000 –( destaque para pesquisa dos grupos Africanos “Tambores do Burundi” e “Pigmeus Aka.)



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